quinta-feira, 26 de junho de 2025

GOLPE DA BARRIGA

 Izabelle Valladares e a História para curiosos   

Quando nosso Imperador Dom Pedro I caiu no Velho Golpe da Barriga!
Olá, Curiosos,
Essa semana postamos uma enquete sobre o possível número de filhos deixados por Dom Pedro I no Brasil e chegamos à incrível soma de mais ou menos cinquenta filhos não registrados. Não era nem preciso trazer uma Corte, Dom Pedro se encarregaria de fazer a dele sozinho. Ele teve filho até com uma freira em Portugal, uma bailarina, uma escrava, uma cozinheira… Enfim, geral!
Mas a vida não é um morango 😎🍓🍓🍓, não é mesmo? E como tem gente boba, tem gente esperta. E é de uma dessas espertas que falaremos agora.
Constance Saisset, que tirou uma graninha do papai.
Pedro Brasileiro de Saisset foi o nome dado à criança, batizada como filho legítimo do casal Saisset na França.
Esse filho em especial, que recebeu até o mesmo nome do Imperador, só ficou sabendo de sua verdadeira história já adulto, após o falecimento da mãe.
Mas vamos pelo começo.
Você deve estar se perguntando se ele era filho da Domitila, ou da irmã dela, ou de alguém bem próximo, né? Afinal, o nome do primeiro filho de Domitila com Pedro também era Pedro Brasileiro (Santa criatividade, Batman!). Mas não, acredito que não tenha ouvido falar desse babado imperial.
Em 1808, quando a Corte veio para o Rio de Janeiro, o movimento comercial por aqui triplicou. Pra começar, o número de pessoas que chegou era maior que o número de pessoas que já havia na cidade, então a cidade estava carente de todo tipo de serviços e, com a abertura dos portos e o crescimento de pessoas com poder aquisitivo melhor, rapidinho bombou de comerciantes chegando na cidade. Todo mundo queria vir pra cá, e o Brasil sempre foi casa da mãe Joana. Portos abertos, braços abertos, podia vir todo mundo. E vieram!
O Rio de Janeiro se transformou. Muitos estrangeiros vieram para a Rua do Ouvidor e para a Rua Primeiro de Março. Veja que até hoje há muitas casas estrangeiras nessa região: casas de comércio de turcos, portugueses, árabes, enfim, aquela miscelânea cultural que é o centro do Rio de Janeiro. Nesse contexto, chega o casal Saisset (leia “Cc”), que eram modistas. O conceito de modista hoje puxa para o estilista, o alfaiate, mas na época seria o conceito maior de um bazar da moda, que vendia leques, perucas, perfumes, lenços, vestidos sob medida, luvas, ou seja, acessórios para complementação das roupas. Enfim… tudo o que rolava na última moda em Paris, eles tinham por lá.
O tempo passa e o casal se dá bem por aqui.
Já estamos em 1828.
Nesse ínterim, Dom Pedro já virou Imperador, já proclamou a Independência, já havia dito ao povo que ficava, enfim, já estava todo enrolado. Inclusive, Leopoldina já havia falecido e ele já tinha ciência de que sua má fama corria o mundo — e ninguém queria se casar com um demonão, ainda mais com um monte de crianças e uma amante perigosa morando a menos de um quilômetro da sua casa. Então, Dom Pedro elimina Domitila com a sutileza de um hipopótamo:
– Pra São Paulo! JÁ!
Ela reluta, mas mete o pé. Triste, mas vai embora pra ver se a coisa melhora pra ele.
O Rio de Janeiro finalmente se acalma e Dom Pedro decide encomendar uma nova roupa para um novo quadro, pra ver se o Tinder dele volta a receber superlikes, e assim ele vai parar na Casa da Modista, Clemence. Assim, começam a ter um tórrido rala e rola, e ela acaba engravidando do Imperador.
Só que o marido descobre e dá um salseiro danado. Pra abafar o caso, Dom Pedro assina um comprometimento com o casal de dar a eles uma pensão vitalícia para a criança e uma grana para eles sumirem do Rio de Janeiro, pois Amélia já estava quase assinando o contrato de casamento e, se aquele babado vazasse, não ia ter mais casamento algum.
Pois bem!
Em dezembro de 1828, eles vão embora para a França e começam um jogo de extorsão e chantagem. Eles não eram bobinhos. Começaram a exigir cada vez mais e chantagear Dom Pedro I, pois tinham as cartas — tanto afirmando a paternidade quanto com o modus operandi do velho demonão. E isso gera o maior desconforto, principalmente à diplomacia da época, que tinha que driblar o casal pro assunto não chegar na boca do povo, que já não estava satisfeito com as últimas de Dom Pedro em relação a Leopoldina.
Dom Pedro era meio inocente em relação às pessoas. Ele escrevia tentando protegê-la de alguma forma. Nessas horas, que eu defendo que ele era até piranhão, mas não era um cara agressivo. Nas cartas ele explicita muito o temor de ela apanhar do marido, dele querer descontar fisicamente nela o que era culpa dele também. Mas o Visconde de Barbacena vai lá pessoalmente conversar com o casal na França e percebe que não tem romantismo nenhum ali. Eles só queriam mesmo dinheiro pra ficarem de bico calado.
Inclusive, Barbacena chega a dizer ao Dom Pedro que o marido já esfregava a mulher na cara dele propositalmente, e o tolo não percebia o golpe que estava prestes a cair.
Esse Barbacena é dos meus, fala na cara.
Como dizia o pensador Goedy Friechsky: “Quando a cabeça não pensa, o corpo padece.” Na verdade, você só vai encontrar esse pensador nos meus textos, pois ele é cria da minha imaginação, mas ele me dá bons conselhos 😂😂😂😂😂. De vez em quando ele me diz: “Bebe mais, só se vive uma vez!” 😂😂😂😂.
Mas enfim, voltando a Pedro.
O Visconde escreve pra ele dizendo que o casal não está nem aí pra exposição, que ela tem um papagaio brasileiro que diz pra todo mundo que era da Leopoldina, que ela não faz nenhum esforço em manter segredo, que pra toda visita fala quem é o Imperador e, tipo, tira sua onda que pegou o cara. E pra Pedro deixar de ser bobo e parar de mandar cartas, que isso só juntava mais provas contra ele.
Depois dessa, ele para de mandar cartas à Constance.
Em 1828, nasce Pedro Brasileiro de Saisset, e esse casal não deixa Pedro em paz. Eles eram tão abusados que chegaram a escrever cobrando pensão à Dona Amélia, e posteriormente ao Dom Pedro II.
Ele cresce na França com muita grana, é educado como um nobre, sem saber que era filho do Imperador, porque foi criado como filho do Monsieur Saisset. Torna-se bacharel em Letras e, depois, advogado. Forma-se em Direito e vai investir em New York; então, lá, ele fica sabendo da corrida do ouro na Califórnia e, como já conhecia a história de muita gente que ficou milionária com o ouro do Brasil, decide investir nessa corrida do ouro.
Os pais deram a ele cinco mil dólares para investir em mercadoria e multiplicar o dinheiro por lá. Ele tinha que voltar para o Exército Francês, mas decide fazer uma viagem de seis meses até São Francisco, achando que iria fazer muita grana por lá.
Só que o navio que o levou até a Califórnia zarpa com tudo dele dentro — não se sabe se foi golpe ou se ele engoliu mosca — só se sabe que ele estava na Califórnia sem um pau pra dar no gato, só com a roupa do corpo.
Então, ele teve que engolir a seco o ar de nobreza e trabalhar duro para sobreviver. Ele trabalha em navios e consegue se levantar.
Ele tinha um dom pro comércio e prospera nos Estados Unidos. Prospera no ramo de pesca, de seguros, monta sua família americana, vira cônsul da França nos Estados Unidos… enfim, se estabelece por lá por trinta e cinco anos, até que a mãe dele, a Sra. Constance, falece em 1864. Ele chega a Paris para resolver as coisas da herança e recebe uma carta: “A Pedro Brasileiro de Alcântara, filho natural do Imperador Dom Pedro do Brasil”, e que se ele não aceitasse aquela realidade por ele, que aceitasse pela descendência dele. Imaginem a cara?
Ele recebe, então, todas as cartas trocadas entre o Pedro e a Constance, os acordos feitos para a educação dele, os recibos das pensões, tudo o que se passara naquele tempo, pois, nisso, Dom Pedro já havia falecido há uns trinta anos. Até o papagaio ainda estava vivo e falando (brincadeira, não sei — mas papagaio vive 100 anos!).
Ele escreve pro Dom Pedro II informando que era irmão dele, achando que o Pedrinho não sabia, mas Pedrinho informa que já sabia disso tudo, pois foi ele quem pagou toda a educação de Pedro Brasileiro, e que, na verdade, seus pais extorquiram a Corte até não poder mais. Inclusive, ele tinha planos de mandar o irmão estudar em Munique.
Ele volta pra Califórnia e é um dos pioneiros na região.
Em 1880, ele cria uma empresa de energia elétrica nos Estados Unidos. Em 1875, Dom Pedro II foi aos Estados Unidos, mas não se sabe se eles se encontraram. Sabe-se que, em 1877, o irmão de Pedro Saisset, filho mais velho de Constance, encontra-se com Pedro II em um hotel na Inglaterra, mas não se pode afirmar que houve um encontro entre os dois irmãos de sangue.
Pedro Brasileiro vive muito para a época. Ele falece em 1903. Teve quatro filhos — desses quatro, somente uma filha teve um filho, e esse filho não teve filhos. Então, essa linha sucessória de Dom Pedro I, estadunidense, acaba ali.
Pedro era bem parecido com o pai, fisicamente e na engenhosidade. Sua filha deixou todo o acervo familiar, além de objetos de arte, em uma universidade em Santa Clara – Estados Unidos.
Pedro gostava de inventar construções como Dom Pedro. Construiu um chalé de madeira e, ao se mudar, ele mesmo transportou a casa inteira de charrete.
Olha que inteligente?
Nosso Imperador caiu no velho golpe da barriga, mas desta vez… bem feito pra ele!

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